segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Dois Morangos no Escuro





"Farewell the ashtray girl, forbbiden snowflack. Beware this troubled world. Watch out for earthquakes, goodbye for open sores, to broken semaphor. You know we miss her, we miss her picture"



Este conto é sobre duas garotas, and you know what i mean. Mas acima de tudo, este é um conto sobre amor, sobre música, sobre vinho, sobre palavras, sobre andar sobre o fogo sem se queimar. Este conto não é meu. É  teu, é dela, dele, deles, de quem ler. É delas, em sua maior parte porém. É importante ressaltar que era em Agosto, mas que podia ser em qualquer mês, o tempo não tem nome. O tempo é contagioso, todos estamos envelhecendo.
Mas era Agosto e passava "Closer" na televisão. Um par de olhos lacrimosos julgava a Anna como uma vadia sem coração e o Dan como um fraco, um "tremendo borra botas" e ria da sua mania de ser velha mesmo sendo uma jovenzinha empertigada. 

A outra com o coração batendo descompassado, suspirava pelas palavras de fé da Senhorita Eyres, "Oh Céus, não seriam elas, minhas também?"
Palavras, palavras, palavras. A caixa de som defeituosa repetia "As palavras tentam mexer com você, não deixe elas te quebrarem ou fazerem o seu mundo parar de girar".
Eu assistia ambas, não por prazer, mas porque precisava. Eu escrevia sobre elas, pra que meus olhos não deixassem de se alargar e porque elas me doiam muito. Ah, como vocês me doem hoje. Eu escrevia também pra tirar da minha alma esse brilho todo que expeliam ao sorrir. Eram dessas que sorriem pelos olhos.  Pessoas cujo sorriso parece sair dos olhos e da boca e tomar primeiro o contorno do rosto e depois a silhueta inteira.
Elas eram muito mais do que as descrições da minha mente alcoolizada podem traduzir e mesmo assim eu tento, por um pouco de brilho, eu tento. Eu disse que o conto falaria sobre o amor, mas não o amor das vitrines, e sim, o amor como manifestação de tudo o que há de verdadeiro, como manifestação de qualquer coisa assim que podemos chamar de "Deus", por falta de um nome mais apropriado. Uma delas sabia apenas correr atrás do que acreditava, mesmo que acreditasse numa coisa diferente a cada dia. A outra caminhava nas ruas cheias de domingos, com as mãos no bolso contando as horas, contando os lampejos de vida, medindo cada dia pela quantidade sonhos que cabiam neles.



"Mas me diga: Você viajou através do sol? Você chegou a Via Láctea? A ponto de ver todas as luzes apagadas e descobrir que o céu é inalcançável? Diga-me, você caiu de uma estrela cadente, a única sem uma cicatriz permanente? E você sentiu minha falta enquanto estava procurando por si mesma lá fora?"



-Você acredita em amor? - Ela dizia lambuzando-se com o resto de chocolate que restara nos dedos.
- Não, são tolices que a ficção inventou pra que conseguissem nos condicionar e manipular e depois fazer experiências bizarras em laboratórios com nossos hormônios.
-Deve ser mesmo tudo hormonal, coisa assim. - Ela suspirou e sorveu o cheiro do capuccinno. - Então, por que será que dói além da carne?
- Porque somos feitos pra doer.



"Pedras me ensinaram a voar, o amor me ensinou a mentir, a vida me ensinou a morrer... E não é tão difícil cair, quando você flutua como uma bola de canhão. Pedras me ensinaram a voar, o amor me ensinou a chorar. Então, venha coragem, ensine-me a ser tímido porque não é difícil se apaixonar. Não é difícil crescer quando você sabe que simplesmente não sabe."



Primavera-Verão, sol, sorvete, riso, pranto, discussão, calor-calor, coca-cola, latas, ironias, sarcasmos, cores, beijos, ruas, carros, mãos tímidas, mãos dadas, olhos, boca, céu-amarelo-azul-magenta, medo, plenitude, paz, Primavera-Verão. É, eu acho que eu gosto um pouquinho de você. Eu, gosto, de, você, também. - Um pouquinho? Acho, que, não.




"The shorter story... no love, no glory, no hero in her sky"

-Por que eu não posso te amar? Por que você não me deixa te amar?

"I can't take my eyes off of you"

-Eu teria te amado pra sempre.

"I can't take my mind off of you"



É melhor parar, tem coisas que só o silêncio compreende. Não foi Hamlet que disse "É mister ficar calado"? Mas o silêncio não me diz nada, não enquanto eu olho o meu silêncio. Os silêncios alheios são tão floridos. Eu imagino epopéias, tragédias gregas, romances de folhetins. E no silêncio da moça a minha frente, eu escuto os sons e rimas da sua mente. Ela cantarola um verso do Chico enquanto olha pro nada e enrola uma mecha rebelde de cabelo: "Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios, rompi com o mundo, queimei meus navios".
E eu fico com a imagem dos navios queimados na cabeça. São grandes e cheios de velas ardendo nas mais incandescentes chamas, posso ver também salamandras ariscas dançando em meio as labaredas. Eu vejo mais além, um oceano de memórias nos olhos da menina. Como eu poderia não me comover com alguém que cantarola Chico Buarque e me faz pensar em navios queimados e salamandras encantadas? Ela me comove, sempre.



"Agora que ela está de volta na atmosfera com gotas de Júpiter nos seus cabelos. Ela age como o verão e anda como a chuva e me lembra que sempre há tempo pra mudar. Desde sua estadia na lua, ela escuta como a primaveira e fala como Juno. Diga-me, o vento soprou sob seus pés? Finalmente você teve a chance de dançar com a luz do dia e voltar pela Via Láctea? E me diga se Vênus confundiu sua mente? Era o que você realmente queria encontrar? E você por acaso não sentiu minha falta enquanto estava procurando por si mesma lá fora?"



Eu desisto. Sons de harpas e de passos vem a tona o tempo todo e por mais que eu tente parar, uma motivação inexplicável me impulsiona a prosseguir mesmo que eu sinta mil lanças afiadas posicionadas ao meu redor. Eu não me importo, eu continuo por um pouco de brilho nessa noite vazia, um pouco de brilho pra colorir as estrelas desse céu vazio.



-Eu não sabia disso..
- Pois é, se a maçã apenas murchar, é porque sua casa é habitada por duendes.
-Isso é um absurdo.
- Eu sou absurda e não preciso fazer sentido.



Ela era mesmo um absurdo. Ía do pranto ao riso em questão de segundos e se surpreendia quando não compreendiam esse mistério e caçoava de si mesma porque era impossível não ser assim, achava que o amor salvava do vazio, achava que as palavras eram seu veneno e seu bálsamo mas encolhia-se de medo que a ferissem ou que ela mesma se ferisse. Tinha os olhos de Catherina Earnshaw e não de Capitu. Também queria correr para as charnecas, também queria a liberdade de ser selvagem. Mas o que é ser livre? O que é ser livre num mundo de hostilidade e falsas cordialidades.
Somos todos brutais mesmo. Aceitar nossa truculência, é também aceitar nossa beleza. Ela era uma flor no lodo, um bocado de poeira estelar lançada sobre uma montanha, um sonho febril de um poeta em transe. Uma sacerdotisa profana.



"Eu sei que você ama a canção mas não o cantor, eu sei que você me têm preso entre seus dedos. Eu sei, você quer o pecado mas não o pecador"



Se um dia alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi, então eu seria feliz. - I know. - I'm alergic to people. - Não demonstrar emoções, it's so dangerous. - You're a sad little creature, arent' you? - O avesso é seu lado certo - Escutar Strawberry Fields Forever mais uma vez e pensar "Ainda é tempo de morangos", mas ainda lembrar que a vida é um soco no estômago - Someday you'll be loved - O céu não parecia ser meu lar... - It always rains on our generation - CLOSER - You may know my name, but don't know me - Life's full of regrets, Charlie Brown - Mrs Dalloway sempre dando festas pra encobrir o silêncio - ALWAYS the love love, always the hours - Se me dessem um último pedido, eu escolheria você - People pass one another, forever strangers - those eyes, those smile - De que romance antigo me roubaste? -  You're too sweet for rock'n'roll - Conversas banais são desesperadoras - I AM NOT A SMILE! - Será que meu calor não te atordoa, nem minha luz? - Hello, Stranger!


Todos estranhos, passando um pelo outro por uma avenida triste. É como se chorasse, mas sem o apelo das lágrimas. É como se gritasse mas não a plenos pulmões, é como se dançasse mas apenas caminhando, é como se sentisse dor sem sentir, é como se fingisse, encenasse. Alguém disse que chovia lá fora e ela não ouviu, outro disse que os anjos lhe guiariam, ela não acreditou. Um a um, passavam lado a lado, como numa coreografia macabra. Eternamente estranhos, estranhamente humanos. Talvez sejamos todos apenas parênteses na vida um dos outros. Um intervalo entre uma respiração, uma pausa na solidão a que nos condenamos dia a dia. Eu vou beber minhas lágrimas a noite e vê-las pingar durante o dia. Eu vou tampar os olhos pra vastidão, tampar os olhos pra não ver um céu tão sem nada, tão sem ausência. Faz três meses que hoje não acaba, faz três meses que ela vê o universo nas paredes do seu quarto. Alguém disse que toda a mulher é um pouco Bovary. Eu digo que nem todas, mas elas eram.
Ah, como vocês me doem! Ah, como vocês me curam, como vocês me salvam a alma do naufrágio de todas as minhas esperanças. É sempre por brilho que continuo. Porque eu esperei a minha vida toda pra pintar esta cidade de vermelho, mas não vale a pena esperar se alguns de nós estão morrendo procurando encontrar a porta do amor.



"Quando aprendemos a voar, nós esquecemos como caminhar. Quando aprendemos a cantar, nós não queremos mais ouvir um ao outro. Quando sabemos o que queremos, esquecemos o que precisamos. Quando você encontrar a si mesmo, se esquecerá de mim"



Estamos todos na linha de chegada. Eu, elas, vocês que assistem de longe e não compreendem e nem compreenderiam se estivessem por perto. Ainda há que se acreditar, a linha da chegada está próxima e enquanto somos jovens, temos o som, temos o pulso e temos o brilho de garotas como elas. Eu fiz um conto sobre amor, música e duas garotas. Talvez eu tenha escrito muito mais pra mim do que pra quem me ler, a arte desde os românticos é particular e única. Particular como uma lágrima que rola em silêncio e cai fina entre os seios de uma jovem e única como uma canção quando ouvida pela primeira vez. Eu vou parar antes que ambas me seduzam com o canto da sereia e me façam prisioneiro de seus mistérios pra sempre. E pra sempre é sempre por um triz.

2 comentários:

  1. Me lembra pensamentos flutuando. E nós, eu, mera mortal, tento pegá-los mas eles me fogem como areia escorrem entre os dedos. O que fica, o que sobra, são grãozinhos, fragmentos, pensamentos, lembretes, de amor, de vida, de melancolia. Mesmo sendo eu uma mera mortal e talvez não tendo o conhecimento exato do texto, sei dizer que ele bateu em mim fundo, como todos os seus. E se não entendo o que ele fala sobre ti, eu entendo muito bem sobre o que ele fala sobre mim.

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