sábado, 27 de agosto de 2011

O Exílio de Psiquê



Um casal transa do meu lado. Na tevê Nana Caymmi canta baixinho " Suave Veneno".
Aumento o som: "Se eu me curar desse amor, não volto a te procurar"
E eu rezo sem fé pru'm céu sem Deus que alguém retire o veneno.
Está frio e eu não quero mais recordar noites quentes.
Sua língua traçando rastros de fogo na minha pele imaculada, tão imaculada quanto o meu amor. Meus pés roçando a batata da sua perna e bagunçando os pelos ali, seus olhos turvados de desejo sobre os meus também obscurecidos, mais do que já são. E eu os fechava, as vezes, para apenas sentir nossa dança misteriosa.
Sua voz e língua tremulando no lóbulo da minha orelha esquerda.
Eu ainda tenho seu gosto entranhado no fundo da boca, minha pele ainda sente o mesmo arrepio do momento primeiro em que me tocou.
Meu sangue ainda corre rápido só de pensar na cadência do seu pulso. Meus seios tomaram o formato exato das suas mãos e a curva do meu ombro ainda implora pelo seu queixo.
As minhas pernas que só emaranhadas com as suas eram felizes, sozinhas andam trôpegas. Não é a embriaguez, é só sua ausência.
Meu orgasmo sem você na platéia não é prazer, é só o fim.
Eu sinto as suas mãos invadindo os meus espaços e a sua boca sucumbindo a minha.
Eu posso prever o seu orgão tremendo entre meus dedos, as veias saltadas colorindo o teu prazer. E o meu prazer não é completo sem o teu, o meu corpo tem as dimensões exatas para o seu. Nós somos corpos, nós não temos corpos. Precisar do seu corpo é precisar de você no sentindo mais puro. E eu te preciso, com a precisão do tamanho do meu amor amor, do meu desejo, da minha fé. A música continuava tocando, sempre continuava "Apenas te peço um favor não lance nos meus esses olhos de mar que eu desisto do adeus
pra me envenenar".

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A vida sendo como ela é (presente prometido)





Cada dia é uma vida inteira que se estende a nossa frente. Cada dia estende-se em um tapete vermelho que devemos seguir. Só este conselho você deve ouvir, criança:
- Devemos seguir. Mesmo que chova, mesmo que falte cor nos dias, devemos seguir sempre apesar e viver apesar das cruzes e dos rosários caídos. Sempre haverá os sorrisos daqueles que amamos, sempre haverá o canto de Oxum pra te proteger dos mensageiros que andam a semear a descrença e a ruína, sempre haverá o amor.
Este amor que não mata a sede do saciado, só lhe aumenta a ânsia por seu néctar divino.
Este amor que conhece a nobreza, que vem no vento e te abraça a alma. Este amor que se transforma na flor do seu sorriso. É este amor pequeno, singelo e  silencioso que eu te desejo, pequena.
Voce é o presente que foi trazido das espumas do mar, é somente sua essa sina de espalhar amor, de extrair sonhos do pó e graça e vida do vazio.
E com sua beleza de flor recém despencada da árvore você cria vida nas coisas modestas.
Desde o torrão de açucar a mais no chá até o passo cadenciado ao ritmo do mundo.
E você dança a balada da vida sem pudores e seu corpo treme de fome e de êxtase, você é real.
Você começa e termina em você, como um dia, como o próprio mar do qual é criatura.
Oxum enfeitou seus cabelos com os tesouros das águas doces e te deu o canto da sereia, mas foi Mãe Iemanjá que te deu a candura e a bravura e te brindou com essa alma que se acaba em amor pelo mundo.
O amor salva o vazio, menina.
O amor salva o mundo.
A alegria revigora e queima karma, e o que é pra ser tem muita força, quase a força das asas do tempo.
E foi pra colorir a vida que Iansã te fizeste mulher e moça, pra florir todas as lágrimas, para acalentar em seus braços os que não sabem que a vida é hoje e a isso damos o nome de "presente", porque nos é dada a chance a cada dia de recriar o nosso ser errante. O seu "presente" ainda vem, menina.
Ele é uma surpresa na curva. Na curva do rio, na curva de um sorriso, numa curva da vida.