domingo, 4 de setembro de 2011

On My Way





"Get up, GET OUT, get away from these liars,
  Cause they don't get your soul or your fire"



Me pediram para falar e todo esse tempo eu estive quieta, quieta o suficiente pra não mostrar os dentes, quieta o suficiente para não me vitimizar diante do mundo. 

Quieta - Assim poderiam me deixar mais um pouco, mas eles insistiram.
Um dia apenas não faz mal - Eles dizem. Mas só se o dia os pertence. Quando o dia é meu, quando a noite é minha, eu sou proibida de brincar, porque eu quebro se encostar em mim com muita força, porque eu sou dessas flores de estopa. Porque eu queimo se olharem fixamente nos meus olhos. Porque eu faço arder. Me pedem pra calar e eu grito:


FODAM-SE VOCÊS!

Eu podia me espelhar em Saramago e assustá-los com uma "merda" no caminho, porque isso, com toda a certeza, feriria a sensibilidade de vocês. Sabe, viver tem me ferido muito a sensibilidade, assistir a decadência cotidiana de tudo o que era certo, tem me calejado mais ainda alma, mas calos são bons. Então, eu não reclamo. Quem tem a alma calejada aguenta andar pelos terronos mais acidentados. Gente assim voa no meio do tornado quase que se misturando no vento, vocês vêem? Não parece ser bom? Mas eu não estou disposta a esconder as nódoas e pecados que me constroem só pra não magoar a vista fragilizada de todos vocês. Então junto a mais insana voragem do peito e grito-quase-uivo:

FODAM-SE VOCÊS!


Agora sim, peito calmo, vou dizer o que penso, pra quem conseguir ter paciência e estômago pra me ler-ouvir-sentir-pulsar-ver. Foda-se você e sua pretensa espiritualidade de menina mal saída dos cueros que acha que Deus tá preocupado com seu penar, fodam-se todas as suas orações, suas esperanças, seus sonhos pisados, seu orgulho rompido, suas lágrimas nos copos de café, seus sorrisos frenéticos e mentirosos nas ruas. Foda-se sua fé, ela não me atinge, não me comove, pode parar de tentar buscar um céu vazio, um Deus mudo. Tente buscar um Deus-Humano que não caçoe das suas covardias, fraquezas e derrotas.

Foda-se você e sua pretensa anarquia que me faz ter nojo da minha pretensa anarquia, que me faz tentar ser melhor pra mim, porque não quero me reconhecer em você. Foda-se sua postura de que desolada, solitária, anônima na multidão quando sabe que sob a plumagem das suas asas celestiais se escondem adagas prontas pra ferir por puro egoísmo. Foda-se seu sorriso de menina-acabei-de-menstruar-e-vou-sair-saltitando-pelas-ruas-se-você-me-beijar-agora. FODA-SE MESMO!
Foda-se essa mania de tentar me impressionar com anéis de latão, máscaras bem pintadas mas descascando, senso comum, Senhor óbvio-mais-do-que-perfeito. Pare de usar mesóclise, eu odeio mesóclise.
Foda-se seus números, pro inferno com essa lógica, pro inferno com essas doenças cristãs. 
Foda-se os erros e os milhões de defeitos, foda-se essa fraqueza mascarada de altivez. Foda-se essa saudade manipuladora. Pro inferno vocês e todos esses jogos pra me brutalizar, pra me escarnecer.
Foda-se esses sorrisos amarelos, essa sua pureza nojenta de bicho rasteiro que só espera pra te picar, foda-se essa sua falsa ingenuidade, foda-se toda a mentira, toda a calúnia, toda maldade.
Foda-se a cordialidade normativa, a obscenidade mentirosa, fodam-se os dogmas e a moral. Se eu não puder usar meu verso e minha liberdade, eu prefiro não usar a própria vida.
Foda-se o desamor, a secura, a servidão, a injustiça, foda-se você e sua mente perfeita, brilhante e vazia.
Foda-se seus termos banais,  suas conversas sem brilho.


E que toda doença seja expulsa de mim e que não me obriguem a ter a dor além da dor que já não dói.
E que eu seja generosa ainda que mesquinha,
Que vocês não me firam tanto quanto querem, mas apenas se eu deixar.
E que o grito nunca sucumba dentro de mim como algumas crenças.
Porque é por existir direito ao grito que eu grito.


Eu sou vil... como vocês.
Eu sou pérfida... como vocês.
Eu sou real... como poucos.


Dentro da roda dos dias, peço permissão pra girar do meu jeito.

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