sábado, 7 de julho de 2012

Retorno a Oz




Ontem eu bati a cabeça na cabeceira da cama e dormi por horas.
Nos meus sonhos eu vi uma rainha malvada e não era eu.
Provavelmente você fez uma participação especial, mas não foi nada significativo. 
Apenas uma estrada de ferro levando lugar nenhum pra lugar algum. 
E lugar algum era perto de Oz. Nós, desajustados, pertencemos a Oz.
Você sabe, eu andei pela estrada de tijolos amarelos muitas vezes antes e eu sempre encontrei os gnomos de que tanto me falavam, parece tolice mas ele disseram que eu falava uma língua estranha e que por isso, eu deveria ser uma fada.
Na minha terra ideal, eu voava entre os pequenos humanóides com asas e me achava igual a eles, mesmo sabendo que jamais seria igual a ninguém, no meu coração eu ouvia os acordes da canção que dizia "diga adeus, não siga".
Talvez seja tarde demais pra voltar a dormir, talvez seja tarde demais pra tentar dar corações a todos que não nasceram com um, ou coragem a leões covardes, mas ainda existe a música. Ela te segue por veredas obscuras e claras, por estradas de arco-íris ou por mares não navegáveis a marinheiros despreparados, ela te guia por abismos e sorvedouros e ela te ensina que ninguém está sozinho. Aqui nos temos gigantes, nereidas e bruxas verdes. Temos chá e dança, ambos quentes. Temos choupanas pra dormir após um dia exaustivo sendo feliz e retribuindo, eu sei que tudo isso pode soar otimista demais e gerar descrença, mas existe uma terra mais encantada que a Terra do Nunca, mesmo dentro das pessoas mais sombrias. Mesmo um caçador sem coração pode ouvir os ecos desta Terra. O sonho sobre problemas se desmanchando a luz do sol como balas de limão é real quando decidimos escutar a sinfonia. Mas é segredo, ou pelo menos,  por enquanto é segredo.
Façamos as malas! Mas não dá pra levar muita coisa pra lá. Só é permitido um guarda-chuvas, um casaco pesado, um pote de geleia e a sua voz. Na Terra onde não são permitidos pesadelos, o único pesadelo possível é acordar.

Tudo o que eu quis




Era um dia qualquer de verão. Agora, só me lembro de que era verão, porque era a estação que cheirava o cheiro que o sol tinha quando pousava em seus cabelos. Ele era o compêndio das coisas que eu jamais seria. A minha fúria repousada, dormindo em berço quente. Ele era o golpe maior de uma dor lenta e letárgica que eu não me julgava merecedor de sentir. Ele próprio era o verão, com seu cheiro de hortelã-pimenta e estio pela grama. Ele era os becos escuros repletos de vida e anseios, as tardes com pôr do sol magenta, música e sonho diante da cortina estendida de céu e mar. Ele era a própria explosão do universo, o epigênese de tudo, quando carregado a morada de Morfeu em seus sonhos mais ternos, eu, como o homem mais pleno do mundo o embalava e sentia sua respiração trêmula na pele exposta da minha garganta. Ele era a ambição da chuva de lavar os corpos. Ele tinha gosto de morango, saliva, orvalho e dúvida. Ele era a prova de que eu era a pessoa mais repleta de erros que pudera existir. Mas eu tapara os buracos dos meus defeitos com a sua existência. E essa presença era o álibi que me eximira de participar da comédia da vida, da qual eu sequer conhecia o prólogo. Sua presença me salvava do meu asco pela normalidade, Eu o amava de um amor sem passado, ou sequer futuro. E todas as horas que eu passava a seu lado possuíam a hesitação e a brevidade de um primeiro beijo, a ingênua fragrânciada primeira canção que fui capaz de cantar, com os lábios secos e o rosto transbordando de fé. Ele foi pra mim, e ainda o é, a própria imagem de um céu torto ou um paraíso desfeito. E veio a mim como um Deus destronado que exalava adoração apenas com o seu bater de cílios na pele tímida. E eu, cuja a resignação falhava, a cada tentativa de superá-lo, que fazia da sua ausência um pretexto para meus atos patéticos e tolos que no fundo, eu sabia, vinham da minha vulnerabilidade. Em mim, o amor passava como um sopro, uma vida que por medo esquecera de viver. Como todas as estórias de amor, a minha não duraria o tempo exato da queda de uma lágrima. Quando eu soube que uma chuva de maio não poderia durar eternamente, tampouco um verão, eu o deixei. Porque ele queria uma casa com lareira, crianças esperando a ceia e colocando sapatinhos na janela. Ele queria uma constelação com seu nome e um casamento num dia em Maio. Eu nunca quis nada... Nada além de acordar naquele embaraço de pernas e ouvir o seu bocejo, de beber os seus sorrisos até a embriaguez total, de contar os fios do seu cabelo até que ele me parasse. Eu que queria seu pasmo, seu ódio, sua irritação, não estava disposto a aceitar seu futuro tédio, porque com o meu eterno cansaço, nada poderia lhe oferecer que não fossem as mesmas promessas dúbias e vazias. Mas eu era egoísta o suficiente para dizer que tudo o que eu queria era ele, mas era também tudo o que eu não ousara ter. Então ele encontrou alguém que poderia lhe dar o que eu não poderia jamais. Hoje, ele tem tudo o que sempre quis. Eu nunca terei e isso não parece justo. De tudo, restou apenas o sopro e a canção.

Ps1 Texto anteriormente postado no meu antigo blog e num site de fanfics, como não ando escrevendo muita coisa pro blog, resolvi passar o material de lá pra cá, para os que não liam meus textos no outro endereço. That's all!