sexta-feira, 29 de julho de 2011

O filme nas suas pálpebras





                                                                                                                                                         "I always watch when 
                                                         you're dreaming,
                                                                                                                   ... because I know it's not of me

                              And the movie on your eyelids,
                                                                                                                   there's no reflection of myself
                                                                    There's no reflection...of myself
                                                                                                                   There's no reflection...of myself

   I wanna be, I wanna be your movie
                                                                                                              I wanna be, I wanna be your movie

                 Why can't you be me?
                                       Why can't you be me?
                                                            Why can't you be me?
                                                                                                        Why can't you be me?                              
  Be me
                                                                                  Be me
                                                                                                                       Be me
                                                                                                                                                         Be me.

Eu escrevo pra você que não me lê, não me lê nem em palavras nem em olhares.
Eu escrevo pra você que não ouve as minhas músicas, pra você que não sabe o que eu penso sobre o vazio do céu.
Eu escrevo pra você que não sente meu pulso, que não sabe em que cor eu sangro.
Eu escrevo pra você que não diz as palavras que eu preciso.
Eu escrevo pra você que não choras das dores que choro.
Pra você que mente ler, mente ouvir, mente saber, mente sentir, mente dizer, mente chorar.
Pra você que provoca a mais absurda angústia, a mais terrível poluição de sentidos.
Pra você que me agride sem gesto algum e que me destrói sem palavra alguma.
Pra você que não retribui, pra você que ficou em algum lugar do passado e não chegou até aqui.
Pra você a quem sempre escrevi cartas suicidas sem que você as reconhecesse como tais.
Eu escrevo como quem morre e ninguém percebe, porque ninguém precisa, porque ninguém se importa.
Eu escrevo como quem assassina brutalmente alguém, como quem tem uma hemorragia infinita, como quem se dói com a vida.
Escrevo porque vejo a vida inteira.
E é pra você que agora me lê e não entende a quem eu dedico minhas derradeiras horas antes de trilhar o caminho do purgatório por ter um corpo que não comporta minhas asas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sobre Tirésias e sobre um lobo


Não sei ainda se continuo dormindo ou se despertei ao contrário, eu havia dito há um tempo atrás que acordar do avesso é irreversível.
Muito cuidado pra não congestionar a alma, muita suavidade pra reprimir a fúria, muita palavra pra cobrir o que não deve ser dito, o que não pode ser dito.
Muita coisa vaga, muita coisa aquém de qualquer expectativa.
Não existe sangue aqui, não existe vida aqui.
Um nome, uma crença, um pacto, uma dívida.
Ninguém suficientemente bom pra julgar a dor, ninguém suficientemente humano pra desdenhar dos fracos, ninguém suficientemente real.
Sobrou um pouco da luas de antes, um pouco de cheiro de cravo de manhã, um pouco de amor em algum lugar escondido.
Sobrou um pouco de mel do arco-íris, um pouco de orvalho caindo das copas da árvores, um pouco de melancolia.
E eu parei no caminho, vi pessoas que passavam sem querer falar e pessoas que falavam pra disfarçar os passos cansados. Vi tanta indiferença, tanta gente com os olhos marejados e outros tantos que se incomodavam com a dor, Vi outros que resignados seguiam sua jornada de simplesmente seguir sem precisar se importar com o destino, despejando suas sortes nas mãos de um pobre cego.
Eu queria olhar para o cego Tirésias, mesmo sabendo que ele não poderia me ver, eu queria pedir pra ele descobrir esse manto de estupidez dos meus olhos, eu queria que da sua cegueira e da minha cegueira nascesse o real. Então eu poderia dizer o que jamais deve ser dito com a certeza de que por essa vez me ouviriam e entenderiam. Eu queria não estar a beira do abismo toda vez que fito a imensidão, eu queria estar de frente com o mistério sem que ele me desafiasse com os seus olhos de abutre faminto. Esses olhos que ferem mais que a própria boca desvairada.
Eu queria que todos os fantasmas fossem embora junto com o inverno, eu queria que eles não estivessem dentro de mim. Acho que foi Vírginia Woolf que disse que se os lobos estivessem por fora bastaria afugentá-los com um pedaço de pau. Mas como faço pra afugentar este lobo manso que repousa em sono leve aqui dentro?