quinta-feira, 9 de junho de 2011

Guerreando por paz


Uma verdade que tinhamos que aceitar naquele tempo, era a de que existiam circunstâncias que não estavam em nossas mãos alterar os cursos. Existia porém a regra de não viver sem a presença onisciente das palavras e de ceder sempre a insistência das mesmas quando exigiam voz. Nós, geralmente, procuravamos ser melhores que eles, melhores do que pretendíamos ser anteriormente. Afinal, a vida não era tão ruim. Ainda haviam navios nos portos, havia caça nas fogueiras e música vinda das tabernas para alegrar mais um dia de paz. A paz em nosso tempo era aquilo que o amor é hoje. Um espaço paralelo, uma trégua na espera, na aspereza, no breu. A paz era o canto derradeiro da Fênix em pleno outono.
Contávamos estórias de amores edílicos e de fronteiras invioláveis as nossas crianças.
Eu mesmo, contei centenas de vezes os desamores de Apolo e os infortúnios da virtuosa Cassandra. A paz era o que tentávamos alcançar pela guerra, triste disparidade.
Nos altares de Belona estendemos nossas oferendas e rezamos para que a guerra quando necessária, fosse justa e não cercada da cínica vaidade dos inúteis.
A vida deveria ser celebração, era assim que cantavam os trovadores de meu tempo, quando a Terra não jazia sob o jugo deles.
Eu não consigo me recordar exatamente quando eles chegaram. Só sei que era verão.
As aves de fogo singravam os ares e todos eram atraídos pela melodia e fragância das flores do campo que como mulheres melindrosas e palpitantes exibiam-se em suas mais exóticas cores e aromas.
Com os que chegaram veio também toda a sorte de desgraças e maleficências.
A cólera, o desamparo, a violência despudorada, a fome.
Não tinhamos mais armas que fossem capazes de mudar o curso dos ventos, muito menos palavras que cessassem a fúria dos algozes.
Quando não podemos deter o curso do destino atroz, não seria melhor abandonar o campo de peleja? Pra que lutar contra o invisível? Os laços do passado continuam vivos, latentes e eu continuo com medo da paz. A paz implora silenciosa, mas não possui força que a faça durar, fúria que a faça  forte o suficiente para que dure, para que não se esgarce, para que não se vá com o vento como matéria que nasceu nos sonhos.
A paz me amendronta, assim como amedrontou meus companheiros.
A guerra silenciosa de hoje pulsa tanto como a de outrora, mas apenas os sábios, os poetas e os loucos podem vê-la, diria melhor, podem senti-la.
Eu continuo aqui, horrorizado e ansiando pela paz, essa minha paz que nunca chega mas que irei esperar até a poeira dos meus dias se esgotar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário