sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Lágrimas e chuvas de dezembro



Faça as coisas que você sempre quis,
Sem eu ali pra te segurar.
Não pense, apenas faça.

Mas do que qualquer coisa, eu quero ver você, garota
Retirando um pedaço glorioso do mundo todo.


É quase Natal.
O ar anuncia, o cheiro de dois ou três perfumes contam novas estórias.
Os meus pés percorreram o calor, minhas mãos estão molhadas de lágrimas de transição.
Alguns sonos entram pela porta arrebentando todo o silêncio ao qual eu tinha me entregado.
É mentira. Tudo queima pior que as salamandras que andam me acompanhando.
Mesmo sendo mentira, ninguém precisa saber disso, o sangue é sagrado e já dizia a canção... o fruto do nosso trabalho é sagrado e o nosso suor é bendito em toda a sua verdade.
A verdade seja ela qual for talvez seja o que me faça insistir nas pessoas, na vida, na esperança de que o mundo esteja melhorando. Porque nada pode piorar...
E eu nem peço mais por mim, eu peço pelos que tem muito mais a perder. Eu não tenho muito além do que eu carrego por dentro, eu também não me apego a essa mania cínica de coisificar as pessoas e a vida.
Talvez meu choro seja de cansaço. Cansaço de um ano todo, cansaço de rir, de ser forte, de ser... simplesmente, cansaço de quem precisa de um abraço apertado ou dois, que precisa de um colo, mas que não vai encontrar... porque é quase Natal e todos estão ocupados demais comprando coisas que não precisam, amando quem não se importa com o amor, quem joga o amor assim como joga as embalagens dos presentes.
É um pouco desconfortável depois de um dia todo tão azul e bonito... e simples, porque isso o tornou mais bonito ainda, é difícil depois disso dar vazão as lágrimas, dar vazão a um pranto que desafoga sem que eu o impeça de se expandir e sobretudo, falar sobre isso desafiando o silêncio ao qual minha alma havia se entregado. Eu estou aqui, clara, dolorida, sem disfarces, sem fantasias, sem ironias, sem metáforas, dizendo claramente que me perdi e dizendo tudo mesmo sem procurar ocultar a ferida, sem evitar o caminho que dói mais.
Por que sempre a mesma estrada? Eu já a conheço, já estive nela por tempo demais e sei que sempre acaba do mesmo jeito. Do mesmo maldito jeito que eu tento evitar não tentando nada. Não me mexendo, porque se mexer já é um desafio gigante.
Eu já deveria saber que essas luzes me cegariam, eu já deveria saber que as estradas que eu pegasse seriam sinuosas, eu já deveria saber que eu não consigo manter ninguém por perto, que assim como um filme em lançamento, eu só sou interessante até a noite de pré estréia e eu tenho essa mania injusta de dar "adeus" o tempo todo e de não voltar mais e de não me importar mais, é por isso que eu tenho medo de usar as pessoas como bitucas de cigarros e copos de bebida, é por isso que eu prefiro andar só e conversar com meu silêncio e minhas dúvidas. E eu crio estórias que ninguém compra e vendo mentiras com ofertas imperdíveis pra ver se um dia eu acordo e acredito na minha mercadoria contrabandeada.
Nem precisa me dizer, sabe? Eu sei que meu coração nunca será um lar, eu não sei ser pouco e o excesso também é pecado. Eu queria tanto falar de paz, nessa ante-véspera de Natal... mas como eu posso? Quem poderia? Possivelmente alguém que já a encontrou, que já sentiu seu doce hálito. Não, ela nunca esteve comigo. E eu ainda busco encontrá-la.
Nos livros, nos filmes, nas ruas, nos sorrisos gratuitos e gentis.
Por Deus, é essa gentileza que me salva e que me faz querer trilhar um caminho que ninguém possa percorrer, além de mim. Eu acredito mais do que nunca.
Eu botei as minhas velhas canções pra tocar, aquelas que eu costumava sentir baterem dentro do meu peito. As linhas de baixo fluirem nas minhas artérias, enquanto eu dançava pelo caminho, eu sempre quero dançar pelo caminho. E tudo que eu senti foi sozinha, mesmo que tivesse amor nesse caminho. Amor pelas pessoas, pelas suas ideias... ou talvez só o amor pela ideia que eu fazia das pessoas e isso me mostrava que até mesmo a ideia melhorada que eu tinha das pessoas era um pouco da beleza que eu tinha por dentro fazendo efeito. A verdade é que eu amo quebrar a cara com alguns, pra assim, descobrir como são perfeitos outros, perfeitos desde o alface no dente até a mensagem de texto de madrugada entre um copo de vinho e um salame no pão.
Eu não me arrependo de vocês. Vocês sabem disso. Talvez eu me arrependa de não ter tido sempre suficiente maturidade pra entendê-los e pra me entender. Mas o que eu poderia exigir dos outros? O que eu poderia exigir de mim? Que sempre vivi em meio a coisas e ideais estúpidos, que tipo de coerência eu poderia ter?
Agora eu acho que tenho, ela veio com a chuva, com todo o tipo de chuva.
Parece que sempre choveu nos momentos que deveriam na minha vida e minha vida é hoje, é o que escolhi ser. É só esse alguém que não joga cartas com as pessoas e com seus sentimentos e que escreve agora, tudo o que fui ontem morreu e jaz dentro de mim num cemitério de almas calmas. Muito do que fui, era lindo. Mais ainda do que fui era horrível, digno mesmo de repúdio e condenação. Mas eu me despi das asas de outrora, pra dar espaço pra novas asas, pra novos erros e defeitos. Eu me entreguei e quem eu era não existe mais... talvez só exista nas memórias dos outros e um pouco na minha. Sempre fica um perfume daquilo que poderia ter sido e do que foi doce. Eu acho bonito restar um pouco de perfume nas mãos dos que distribuiram flores. Distribui espinhos também, mas creiam-me, esses espinhos feriram muito mais a mim, todo o dano que eu causei me gerou chagas maiores que demorarão a cicatrizar. Nada do que fiz ficou impune. Eu queria que os outros pagassem também. Mas isso era o que eu era... quem eu era esperava sair vingada de algumas coisas. Quem eu sou... ah, quem eu sou  não espera nada. Minto.
Espero que chova, espero ouvir palavras doces quando eu ficar com alergia muito forte, espero que eu sempre saiba adoçar a chá com a quantidade certa de açucar.
Que eu sempre tenha por perto aqueles pra quem, um dia, eu quero dar uma ceia de Natal e adormecer contando estórias do Andersen junto a lareira.
Que eu posso rir, rir de mim mesma como venho fazendo, dos vacilos, das insanidades e do meu descontrole que agora tá acalmando. Que eu possa ver o sorriso dos filhos que eu escolhi ter e que o pai deles chegue quando for a hora pra que eu possa doar o grande amor que tenho pelo mundo e que eu sei que ainda posso sentir, de novo.
Eu espero que chova amanhã também e que eu chore pela esperança, por ter um amigo querido por perto, que o aperto e vazio diminuam quando ele chegar.
E que toda a expectativa de um novo florescer sejam reais.
Já foram lágrimas demais. E todos nós podemor ser felizes, mesmo no meio da dor, mesmo num lugar sem esperança, mesmo que eu precise aprender muito e que os deuses me dêem esse Norte, não, que eu possa desenhar esta bússola e encontrá-lo sozinha, sempre foi divertido fazer as coisas sozinha e tomar o caminho mais arriscado quando poderia ficar na zona de conforto. E eu vou caminhar dançando até lá, até o meu norte, até onde o meu coração repousar.

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